Motorista processa banco após devolver R$ 131 milhões recebidos por engano

Antônio Pereira do Nascimento, motorista de 25 anos de relacionamento com o Banco Bradesco, descobriu em junho de 2023 um saldo de R$ 131.870.227,00 em sua conta, valor que não era seu. O homem, que trabalhava com turismo em Palmas, tinha anteriormente apenas R$ 227 em sua conta corrente quando se tornou "milionário por um dia".

O episódio durou aproximadamente sete horas, período em que Antônio comunicou o banco e devolveu espontaneamente a quantia milionária. A transferência equivocada pertencia ao próprio Bradesco e era destinada a outra instituição financeira, conforme esclarecido pela defesa do motorista.

Consequências inesperadas

Após a devolução, Antônio relatou sofrer R$ 70 em cobranças indevidas por ter sido incluído em tarifa de serviço "VIP" sem autorização. "A gente que é honesto no Brasil, a gente paga para ser honesto", desabafou o motorista na época, enquanto o banco negou a cobrança da taxa.

A defesa do motorista afirma que ele sofreu pressão psicológica intensa do gerente do banco para realizar o estorno, sendo tratado "como um criminoso", além de ter sua vida exposta publicamente com a viralização do caso.

Ação judicial em andamento

Em julho de 2024, mais de um ano após o ocorrido, Antônio ingressou na Justiça contra o Bradesco pedindo R$ 13 milhões em recompensa (10% do valor devolvido, com base no artigo 1.234 do Código Civil) e R$ 150 mil por danos morais. O processo tramita na 6ª Vara Cível de Palmas.

As testemunhas já foram indicadas por ambas as partes, e aguarda-se a designação da audiência de instrução, onde o juiz analisará as provas e ouvirá os envolvidos. A defesa afirma que o processo avança dentro dos prazos previstos pelo sistema judicial brasileiro.

Repercussão nacional

O caso ganhou dimensão nacional quando Antônio participou do programa Domingão com Luciano Huck em agosto de 2023, no quadro "Acredite em quem quiser". Sua honestidade foi elogiada pelos artistas participantes da atração da TV Globo.

O Banco Bradesco, questionado sobre o processo desde o início de 2025, informou em nota que não comenta casos em trâmite judicial. A instituição mantém essa posição desde o início das ações judiciais.

Contexto legal

A legislação brasileira estabelece que quem recebe valores por engano em conta é obrigado a devolvê-los. A não devolução pode caracterizar crime de apropriação indébita na esfera criminal e enriquecimento ilícito na área cível.

O processo continua em tramitação regular, com contestação do banco já apresentada e réplica protocolada pela defesa de Antônio. As partes aguardam agora a designação da audiência de instrução para prosseguimento do caso.